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PAISAGEM HÍBRIDA – Indústria, Urbanidade e Ruralismo com o arquiteto João Paulo Cardielos

A história dos lugares pode ser sempre interpretada à luz de diversos fatores. Para esta visita do Olhar Por Dentro, o arquiteto João Paulo Cardielos levou-nos, de bicicleta, à descoberta da expansão da cidade com base em três das suas etapas‑chave. Trilhou-se um percurso‑narrativa sobre vivências, traçados históricos e modos de fazer, sobre indústria e atividades económicas mas, acima de tudo, sobre as inúmeras camadas do território que são consequência das opções diacrónicas do seu desenvolvimento.



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João Paulo Cardielos (Viana do Castelo, 1963) é formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (1986) e Doutor em Arquitetura pela Universidade de Coimbra (2009).


Docente no Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra desde 1992, leciona no presente ano letivo, a disciplina de Projeto V do Curso de Mestrado Integrado em Arquitetura e nos cursos de Doutoramento em Arquitetura do DArq-FCTUC, e cursos de especialização, mestrado e doutoramento, oferecidos pela Iniciativa EfS-Energia para a Sustentabilidade, da UC.


A par com a prática profissional da arquitetura e do desenho urbano tem-se dedicado à investigação em Projeto da Paisagem, com interesse particular nos domínios da arquitetura e da cultura do território português, tendo proferido conferências, lecionado cursos, comissariado eventos e exposições, e publicado textos e artigos em revistas da especialidade. Integra a equipa do Núcleo de Estudos|Cidades, Culturas e Arquitetura do Centro de Estudos Sociais|Laboratório Associado da U.C.

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Montámos as bicicletas, já por si uma opção bastante ilhavense para, desde o ponto de partida, pedalarmos pelo centro do próprio centro histórico. Por entre ruas estreitas fomos descobrindo particularidades próprias da construção da cidade antiga que, de algum modo, foi transversal ao desenvolvimento do território nacional à época. A estreiteza das ruas, ou o chão, que hoje é empedrado mas terá sido inicialmente em simples terra batida, revelam-nos particularidades da modesta circunstância original desta povoação nascida no instável equilíbrio entre a economia rural e a da safra marítima dos ílhavos.

Algumas reminiscências de velhas casas de baixa altura, alinhadas e em banda contínua, de construção bem simples e em contacto direto com a rua, são fruto evidente e bem real dessa condição da vila original, tal como o são os alargamentos que geram formas incipientes de espaço público, não chegando ainda a ser praças, que a escala da localidade dispensava nos primórdios.

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© Isabel Saraiva

Afastando-nos um pouco do centro histórico, seguimos para aquela que é, por excelência, a via de extensão da cidade durante o período do Estado Novo, a Avenida Dr. Mário Sacramento. De cariz claramente residencial, em boa articulação com aquelas que eram as políticas urbanas em zonas de expansão direta das cidades portuguesas, acolhe sobretudo a típica habitação da classe média, com moradias unifamiliares isoladas de alguma dimensão. Afirma-se uma ideia de cidade que, sem grandes ostentações, mas com algum conforto, se desenha para uma nova modernidade, à qual já não é alheia a mobilidade auto-motorizada. Descobrimos também nesta avenida uma casa da autoria de António Sarrico, que sendo arquiteto autodidata foi, na verdade, responsável por algumas das mais expressivas formas de arquitetura modernas na zona de Ílhavo e Aveiro.

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© Isabel Saraiva

Seguindo até ao Cais da Malhada, passamos por instalações das antigas secas de bacalhau e por fábricas que serviram a indústria pesqueira e conserveira. Uma pequena paragem, na berma da estrada, permite que se discuta brevemente esse relevante legado industrial de Ílhavo, motor do crescimento e da transformação da cidade. Ao articular estas relações ancestrais com as tradições e atividades económicas predominantes em toda a zona da ria, nomeadamente a pesca, a apanha do moliço e a agricultura, o nosso guia lembra-nos que, apesar do desenvolvimento industrial ocorrido durante o século XX, a subsistência nestas zonas foi sempre muito difícil para os mais carenciados.

Por isso, muitos locais deslocaram-se para outras zonas do país, onde se instalaram e adaptaram as suas artes, como aconteceu com os típicos avieiros, no vale do Tejo, que têm afinal origem nas construções de palheiros de pescadores das Gafanhas, e da restante costa atlântica norte.

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© Isabel Saraiva

Um pouco mais à frente, na rotunda onde desemboca a Avenida 25 de Abril, João Paulo Cardielos revelou-nos como se fez o crescimento mais recente da cidade, em tempos de democracia. A nova Avenida, com nome a condizer com a liberdade instalada, é pois o símbolo de uma nova etapa. É o tempo do automóvel, que se consolidou, depois de uma chegada tardia a Portugal. Foi para ele que se abriu este boulevard, que foi articulando em simultâneo alguns dos novos equipamentos, emblemáticos, da democracia, instalados ao longo deste eixo — como o novo mercado e o pólo desportivo. Amplo, o arruamento desenvolve-se por cima de um curso de água, apenas visível na rotunda e escondido ao longo de toda a extensão da avenida. Esta atitude corresponde a um modo de fazer que, hoje, jamais seria aceitável. Provavelmente, outras estratégias ditariam agora o desenho deste curso, não coberto mas a céu aberto, aliando uma maior consciência sobre aproveitamento e o valor do recurso da água, que seria prudentemente retida e armazenada para reutilização, permitindo-se o seu usufruto como fator de qualificação do espaço público.

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© Isabel Saraiva

Daqui em diante pedalámos à séria mas, apesar de ainda não termos adaptado completamente Portugal à circulação em bicicleta, e à secundarização do automóvel como meio de transporte individual — em prol de outros mais ecológicos —, seguimos ao longo da nova ciclovia que mantém um percurso desde a Avenida 25 de Abril até ao novo Polo Tecnológico de Ciência e Inovação da Universidade de Aveiro. Este terceiro Campus Universitário, criado em parceria com o Município de Ílhavo, foi instalado já no início deste novo milénio.

Aqui fizemos mais uma paragem para perceber que, mesmo quando planeado e intencional, o desenvolvimento urbano pode esconder equívocos e revelar oportunidades perdidas. Esta operação de desafetação de extensas áreas de reserva agrícola e ecológica, na zona da Coutada, pressiona hoje uma intensa urbanização dispersa na sua envolvente, que não é consentânea com os propósitos de um urbanismo e uma gestão acertados. O caminho de regresso ao centro, pelas estradas locais desenhadas sobre as velhas vias rurais, confrontou‑nos violentamente com este fenómeno suburbano, que João Paulo Cardielos apelidou de “condição urbana híbrida da contemporaneidade”.

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© Isabel Saraiva

O sonho de uma residência unifamiliar grande e com amplo jardim materializa-se, com mais ou menos acerto. Todo este território, graças à existência das vias, e de infraestruturas de abastecimento de energia elétrica, água e de telecomunicações instaladas, fica à mercê de uma urbanização extensiva e difusa. Assim, percebemos que os terrenos agrícolas estão a ser loteados em pequenas frações, ao longo das estradas.


Contudo, os lotes não são, afinal, assim tão grandes, e são ocupados quase na totalidade pela área de implantação das casas. Sobra um “canteiro” ajardinado à entrada e um de acesso impermeabilizado que conduz à garagem, tendencialmente em construção anexa na área posterior. Este modelo suburbano, como o conhecemos, cumpre pouco da promessa inicial de um habitar em plena natureza, e é, para além disso, em Ílhavo, construído à custa do parcelamento de terrenos férteis, passíveis de associação em bolsas de solo de alto rendimento agrícola.

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© Isabel Saraiva

Regressámos finalmente à Casa da Cultura, depois de percorrer um troço curto mas repleto de riscos e tráfego automóvel, ao longo da Estrada Nacional 109 — a falta que nos fez aqui a ciclovia! Viemos cheios de novas perspetivas sobre este território, sobre a sua expansão e as várias estratégias que o seu planeamento empreendeu, numa visita que foi, afinal, bem mais plural do que a promessa inicial.


Mas, já se sabe... pedalar logo pela manhã, dá saúde ... e desperta olhares atentos!

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© Isabel Saraiva

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e porque o conhecimento ocupa (bom) lugar...



Bicicletas - As imagens históricas retratam vivamente, com numerosos e impressivos registos, a mobilidade por bicicleta que foi, desde sempre, convictamente assumida pelas populações locais nas suas deslocações casa-trabalho. Ao longo das visitas do Olhar por Dentro servimo-nos várias vezes deste meio de transporte, e demos-lhe especial foco na Visita com o Laboratório do Território e da Mobilidade da Universidade de Aveiro.

António Sarrico – Apesar de não ter formação em arquitetura as suas obras em Ílhavo e Aveiro revelam-se das mais expressivas do movimento moderno nesta zona do país. A Casa Lavado Corujo, conhecida como “o porta-aviões”, ou a Casa do Capitão são exemplos dessa capacidade de desenho e estudo da linguagem moderna. O arquiteto João Paulo Rapagão levou-nos a conhecer estas e outras arquiteturas modernas em Maio de 2018.

Avieiros – Estas cabanas foram “transportadas”por pescadores saídos de Ílhavo, mais precisamente das Gafanhas, que ao procurarem aplicar a sua sabedoria em regiões onde a agressividade das águas era menor, neste caso nas zonas inundáveis do estuário do Tejo, acabaram por criar um mundo informal muito fortemente retratado no realismo literário de Alves Redol.

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